8 de maio de 2008

Procura-se cidade sem cimento.


Andamos convencidos de que a modernidade é que é, e até existe uma cultura geral de adoração das fontes, repuxos e coisas bonitas para embelezar o belo empedrado do passeio.
Estamos a chegar ao ponto de enchermos a formosa retina com imagens de ilustres árvores artificiais, integradas num lindo jardim com o chão em relva sintética e um lago de água cheia de cloro, para manter aquele azul refrescante que salta à vista.
Nem mais uma árvore nascerá e no final ficarão apenas os conceitos desenvolvidos pelos melhores arquitectos.
Pergunto-me. Se as árvores são um bem precioso, já existiam antes das edificações humanas, foram durante os tempos convivendo com a malha urbana e até produzem oxigénio, porque é que existe uma ânsia de corte?
Desde que voltei a viver em Lagos sou constantemente atraído para o lugar errado à hora errado, tendo que conviver com cenas tristes de cortes fugazes de árvores determinantes para a energia positiva da cidade.
Devido a uma barbárie sobre o vegetal, Lagos privou-me de assistir ao fluir do lindo Jacarandá da Rua Soeiro da Costa, que tornava aquele espaço especial.
O jardim das laranjeiras deixou de ser jardim, agora tem um enorme sombreiro que se abriu à custa do corte das laranjeiras no interior do recinto. Na altura ouvi uns zuns zuns que diziam que as árvores estavam doentes, estranhamente só as do meio.
Em frente ao Café Oceano, existia uma árvore que morreu e que ia servindo de ponto de ancoragem para o carrinho do Marco e da Leonor. Pois é, a árvore morreu e no seu lugar nasceu calçada. Que bom que seria replantar uma árvore.
Faz uns anos, decidiram organizar um concerto de Xutos e Pontapés no estacionamento onde hoje fica o parque da cidade. Existia uma linha de árvores na estrada de acesso à Praça de Armas. Pois é, existia, hoje resume-se a uma figueira que só resistiu porque na altura eu e uma amiga, manifestamos o desagrado aos senhores que cumpriam ordem de limpeza total da superfície.

São estes e outros motivos que me levam a pensar que o melhor é ficar em casa

1 comentário:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.